O meu Postal de Natal
Cada vez mais me
aborrece a correria natalícia. Não tenho paciência, dá-me nervos. Filas em
todo o lado, gente aos magotes com uma urgência de comprar sem explicação. Em
dar, dizem elas. Mas eu, me confesso: o dar tem costas largas. O comprar, aquele
ter imediato, aquela posse cheia de brilho, só porque toda a gente tem, é que é
o cerne da questão. O comprar, por mais generoso que seja, é que nos vai
preenchendo os pequenos vazios que
teimamos em
ignorar. Simplesmente por não termos tempo para olhar para eles
com atenção. E não temos tempo, muitas vezes, porque já o gastámos a comprar. O
engraçado é que depois vai tudo bater àquele lugar-comum, batidíssimo (por ser
dito, e não por ser praticado), que a vida não se compra. Pois não, mas
gasta-se.
Há uns anos eu não teria esta conversa. Eu era
daqueles que consumia brilho de Natal "made in China" . E ainda pedia para
embrulhar com um papel bonito. Se calhar para tapar o baço que trazia comigo. Que
os vazios são muito baços, tão baços que a gente passa uma vida inteira sem dar
por eles. Mas um dia percebes que já não estás a ir para novo e abres a pestana,
resolves fazer aquela coisa das prioridades da vida, e vejam lá, os vazios
preenchem-se e deixa de haver espaço para brilhos postiços. E percebes, também,
que a única coisa que enche mesmo esses vazios é o tempo, que é estupidamente
escasso e que passa num tirinho, raios o partam. A dada altura entra-nos pelos
olhos adentro que o único presente que vale a pena ter é aquele que é feito de
horas, minutos e que depois se torna em memórias. E toda a gente sabe que
o Natal sem memórias é uma espécie de bacalhau sem couve, ou uma coisa que se
aquece no microondas e que uma semana depois já ninguém se lembra. O Natal é
como o resto da vidinha: vive-se. Não se embala em fábrica, muito menos se
compra. Vá. Fica aqui o meu fofinho entendimento de Natal. Cheiinho de
lugares-comuns ensopados em calda de açúcar.
Tinha de ser. Nem a coisa lá ia de
outra maneira...!
Bom Natal, Boas Festas.
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